Na Tailândia, comer comida de rua é quase obrigatório. A variedade é imensa e é tão barato! Todos os dias vou até ao mercado ou passo num vendedor ambulante para comprar o almoço ou o jantar. E é seguro, nunca tiveste “problemas”? Sim, é seguro e sim, já tive um “problema”… E hoje vou contar-vos esse “problema”.
Estava em Pai, uma pequena aldeia no norte da Tailândia, junto à fronteira com Myanmar, a cerca de 140Km e mais de 700 curvas e contra-curvas de Chiang Mai.
Depois de um magnífico caril verde de frango, comido ali mesmo no night market, tive a triste ideia de terminar a noite com uma panqueca de banana…
Da noite, poupo-vos a descrição. Verdadeiramente preocupado fiquei quando acordei estatelado no chão da casa de banho. Tinha desmaiado enquanto fazia a barba. Fui rapidamente pedir ajuda para ir até ao hospital e foi de moto-táxi(!) que dei entrada nas urgências. Sei que consegui preencher a minha ficha de entrada, atirar-me para cima da maca que ali estava livre e ainda me lembro de ver 4 enfermeiras à minha roda. Uma delas tentava medir-me a tensão com um ar desesperado…
Abri os olhos e as enfermeiras tinham desaparecido. Estava numa enfermaria com mais cinco tailandeses que me olhavam com um sorriso de alívio por me verem de olhos abertos. Olhei à minha volta. Estava a soro mas… alguma coisa estava por baixo da minha cama a empurrar o colchão. Debrucei-me e vi… um enorme pastor alemão que me fitava com as orelhas espetadas! Era ele que, com o focinho, me empurrava o colchão. Aí fiquei verdadeiramente preocupado. Estava a delirar! Devia estar cheio de febre. E estava, mas o cão era real!
Ao fim do dia ouvi alguém a chamar “Bobby, Bobby!!” (em tailandês, claro!) e ele lá foi para casa com uma das funcionárias do hospital. No outro dia, o Bobby tailandês lá estava ao serviço para me acordar.
Passei três noites no hospital. Devo dizer que fui muitíssimo bem tratado, com profissionalismo, simpatia e eficácia. É aliás essa a imagem que tenho dos hospitais públicos tailandeses.
Algumas imagens que guardo deste episódio:
1. Os uniformes das enfermeiras – Elas estão sempre irrepreensivelmente fardadas de cor de rosa ou lilás e com uma touca na cabeça. Parecem tiradas de um qualquer filme de guerra antigo de Hollywood.
2. A funcionária da cozinha, que tanto se esforçou para que eu comesse… Lembro-me do primeiro pequeno-almoço (tipicamente tailandês) que ela me trouxe. Disse-lhe que não conseguia comer e pedi-lhe apenas um café ou um chá. Ela sorriu e com um ar de quem tem exactamente o que eu queria, foi à cozinha e voltou com… um ovo cozido e uma banana!
3. A miúda com umas orelhas de Minnie a segurar o cabelo que regularmente me vinha medir a temperatura. Registava o valor numa folha de papel e afastava-se com um ar muito triste. Até que, em mais uma medição, fez o sorriso mais bonito que vi naquele hospital e me disse em inglês: “No fever, very good!”.
4. A quantidade de gente que dormia naquela enfermaria! Não, não eram apenas os 6 doentes. As visitas eram autorizadas durante as 24 horas e à noite, os familiares mais próximos estendiam uma esteira no chão e dormiam ali mesmo. O meu vizinho do lado teve sempre a companhia da mulher e dois filhos a dormir debaixo da cama.
5, Quando tive alta, tinha à minha espera vários saquinhos com comprimidos com instruções em inglês. Vejam a fotografia.